Em Portugal, a maioria dos créditos habitação tem uma taxa variável conhecida como Euribor. Mas o que é a taxa Euribor? Qual é a diferença de fazer um empréstimo indexado à Euribor a 3 meses ou à Euribor a 12 meses? Como calcular a variação da Euribor? Se tem dúvidas, descubra como é que a Euribor afeta a prestação mensal do crédito habitação.
A Euribor (Euro Interbank Offered Rate) foi criada em 1999, com o aparecimento da zona euro. A taxa é fixada para toda a zona euro pela Federação Europeia de Bancos, que representa os 52 maiores bancos europeus, para harmonizar as taxas de juro. A título de curiosidade, a Caixa Geral de Depósitos é o único banco português dentro do grupo. (Outra curiosidade: antes da Euribor, aqui em Portugal tínhamos a Lisbor).
Agora, vamos à parte interessante. Como é calculada, afinal, a Euribor? A Euribor corresponde à média dos juros que os 52 maiores bancos europeus praticam nos empréstimos que fazem entre si. (Sim, leu bem: tal como nós, os bancos também pedem dinheiro emprestado.)
Para que o cálculo seja justo, a Federação exclui 15% das taxas mais altas (para não inflacionar o valor) e 15% das taxas mais baixas (para não desvalorizar demasiado). O novo valor da Euribor é anunciado todos os dias, às 10 da manhã (hora Portuguesa). Por isso, embora seja possível fazer previsões, não há um simulador da Euribor.
No entanto, não estamos habituados a pensar na Euribor como algo diário. Isto acontece porque a Euribor existe em cinco maturidades: a 1 semana, a 1 mês, a 3 meses, a 6 meses e a 12 meses. As três últimas são as taxas Euribor que se usam no crédito habitação. Pode ver as taxas Euribor atuais aqui, mas já sabe que mudam todos os dias.
A maioria dos créditos habitação em Portugal tem um taxa variável. A prestação mensal do crédito habitação é o resultado da soma de uma componente fixa (o spread) e de uma taxa variável – a Euribor, precisamente. Entre 2011 e 2022, 9 em cada 10 novos empréstimos foram indexados a esta taxa. Em 2022, 8 em cada 10 estavam associados à Euribor.
Em termos práticos, isso significa que a sua prestação mensal é recalculada trimestralmente (se tem Euribor a 3 meses), semestralmente (Euribor a 6 meses) ou anualmente (Euribor a 12 meses). Se tem dúvidas acerca de quanto vai pagar, use um simulador do aumento da Euribor para calcular a prestação.
Resumindo: quando a Euribor sobe e desce, vai sentir esse efeito no cálculo da prestação mensal do crédito habitação. Nos últimos meses, como a Euribor está em alta, a prestação mensal do crédito habitação subiu. Em conjunto com a inflação, esta situação deixa muitas famílias Portuguesas numa situação vulnerável.
Nenhuma maturidade da Euribor é melhor do que outra. Tudo depende do tipo de empréstimo, da sua capacidade para responder a aumentos e descidas da prestação, e até da sua disposição para arriscar. Quando faz um empréstimo ao banco, pode escolher a Euribor a 3, 6 ou 12 meses. A decisão final é só sua.
A Euribor a 12 meses oferece mais estabilidade, porque fica a saber quanto vai pagar o ano inteiro. No entanto, essa segurança também sai mais cara – a taxa Euribor a 12 meses antecipa as subidas e as descidas, portanto é a que mais sobe. Entre 2021 e 2022, as prestações que mais subiram foram as dos clientes com a Euribor a 12 meses.
Por outro lado, a Euribor a 3 meses é mais volátil. Só se adequa a clientes com capacidade de se adaptar rapidamente à subidas e descidas, que têm capital disponível caso surja uma emergência. Por isso, a maioria dos Portugueses segue o velho adágio de que “no meio é que está a virtude” e opta pela Euribor a 6 meses.
A maioria dos créditos habitação em Portugal estão indexados à taxa Euribor a 6 meses, embora haja cada vez mais pessoas a optar pela Euribor a 12 meses e uma minoria que continua a escolher a Euribor a 3 meses. Com o aumento das taxas, em 2022 quase 70% dos novos créditos habitação foi feito com a Euribor a 12 meses.
Além disso, apenas 80% dos empréstimos foram feitos com taxa variável. A taxa fixa já representa 6.9% dos empréstimos. Segundo o Banco de Portugal, isto representa uma vontade de “evitar alterações na prestação mensal” que se “verifica num contexto de aumento das taxas de juro de referência”.
Os bancos pedem dinheiro a outros bancos para financiar a sua actividade. E, como vimos, são os juros destes empréstimos interbancários que se usa para calcular a taxa Euribor. Mas, visto de outra forma, a Euribor reflete custos para os bancos – que, de uma maneira ou de outra, são imputados ao cliente.
Então, as alterações da Euribor também são um bom indicador para perceber as oscilações das taxas de juro das contas poupança, depósitos a prazo e outros produtos financeiros. Ora pense: quando faz uma conta poupança ou outro produto a prazo, pode-se dizer que está a emprestar dinheiro ao banco.
Se o banco não consegue obter rendimento e lucros com esse dinheiro, as taxas de juro dos depósitos e outros produtos bancários também descem. É por isso que, nos últimos sete anos, com a taxa Euribor negativa, só os investimentos de alto risco, que nem sequer garantiam o capital, ofereciam rendimento.
Por outro lado, em alturas conturbadas, como aconteceu agora com a guerra e a pandemia, a inflação sobe. Quando a inflação sobe as taxas de juro tendem a acompanhar, e a Euribor atingiu valores positivos em abril de 2022. Então, hoje em dia já encontramos algumas produtos bancários mais interessantes para quem investe.
No fundo, a taxa Euribor reflete o estado da economia. Vai sempre oscilar, com períodos melhores e outros piores. Há alturas em que vai estar mais estável, outras em que muda abruptamente. Ao longo de um crédito habitação – que dura 20, 30 ou até 40 anos – é impossível calcular a variação da Euribor e adivinhar o que vai acontecer no futuro.
Se tem dificuldade a lidar com a incerteza e vai contrair um crédito habitação, opte por uma taxa mista ou uma taxa fixa para o seu empréstimo. Com uma taxa fixa, vai pagar sempre a mesma prestação e não fica dependente da Euribor. Com a taxa mista, começa com uma prestação fixa e depois passa para uma taxa variável.
Se tem um crédito habitação com taxa variável e está preocupado com a subida da prestação mensal com a nova Euribor, tente baixar o spread ou renegociar o crédito com o banco. Talvez seja possível aumentar o prazo para pagamento, por exemplo. No limite, também pode transferir o crédito habitação para outra entidade bancária.
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